A Espera! O Que (Não) Perguntar Quando a Esperança For Adiada

by @prflavionunes

Eu bem que gostaria de saber esperar bem. Tenho muita prática de espera — quinze anos de infertilidade, seis anos de dor crônica e cinco anos no processo de adoção. No entanto, mesmo com toda essa experiência, ainda me irrito com a lentidão com que o Senhor parece agir quando estou orando para que um período chegue ao fim. Raramente vejo a espera como algo que não seja uma prisão. Durante a maior parte dos anos de espera, eu só queria me livrar dela.

Todos nós lutamos com desejos não realizados. Casar, ter filhos, alcançar estabilidade financeira, ter saúde física — insira aqui sua esperança adiada. Ansiamos para que as coisas quebradas sejam consertadas, que as vazias sejam preenchidas, que as trágicas terminem. Portanto, quando imploramos ao Senhor que mude as coisas, mas continuamos acordando nas mesmas circunstâncias, queremos saber o porquê. E se pudéssemos ter um prazo definitivo para tais mudanças — ainda melhor!

Mas a Bíblia não garante que nossas esperanças adiadas ocorrerão de acordo com os resultados desejados por nós. Pode acreditar, eu bem que procurei. Passei anos vasculhando a Palavra de Deus em busca de uma palavra especial que falasse ao meu útero vazio ou ao meu corpo quebrantado. Ansiava por saber quando minha espera terminaria e me perguntava porque Deus havia ordenado tal caminho para mim. “Quando” e “por que” são as perguntas que mais fazemos a Deus, mas ao estudar as Escrituras procurando respostas, descobri que estava fazendo as perguntas erradas.

“Por quê? e Quando?’ Não Vão Nos Satisfazer

Quando não podemos mudar nossas circunstâncias, somos rápidos em questionar porque Deus deixou algo acontecer ou porque ele não muda nossa situação. Considere Jó, que não tinha ideia da conversa entre Deus e Satanás relatada em Jó 1–2. Ao lermos toda a história, podemos ver um propósito no sofrimento de Jó e entender que Deus estava revelando e refinando a fé de Jó. Mas para Jó, aquilo parecia arbitrário.

Ele desejava saber por que Deus havia permitido tanto sofrimento em sua vida e teve que suportar uma arenga após a outra de seus amigos. No final, Deus respondeu o “por quê” de Jó com um “quem” — não com uma razão, mas com uma pessoa. Ele mesmo.

Quando Deus interrompeu a conversa sobre se o sofrimento de Jó era merecido, ele simplesmente descreveu seus atos poderosos e sua soberania inatacável. Em vez de saber porque ele necessitava esperar, Jó precisava compreender quem Deus era. E lembrar-se de que sua vida estava nas mãos de seu Criador sustentou a Jó. Após ouvir a autodeclaração de Deus, Jó chegou a esta conclusão: “”Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado…. Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. (Jó 42.2-3).

O Senhor não culpa Jó por fazer perguntas (ver Jó 42.7), mas em sua resposta, ele nunca explica o “porquê”. A verdade quanto à soberana sabedoria de Deus era a resposta da qual Jó necessitava, e foi a resposta que o satisfez, mesmo que ele não tivesse qualquer explicação para suas perdas. Jó aprendeu que podia confiar sua vida a Deus.

Se não podemos saber o porquê de nossa espera, geralmente nos voltamos para o quando. Desejamos saber que nossa espera tem um prazo de validade garantido. Cremos que podemos suportar, caso saibamos quando isto terminará.

A resposta curta é que há uma garantia de que nossa espera ou sofrimento terāo um fim, mas não cabe a nós saber quando aquele dia será (Ap 7.15–17; Mt 24.36). Um dia, Deus corrigirá tudo que está errado, trazendo completa cura e restauração ao nosso corpo e relacionamentos. Mas a eternidade pode nos parecer muito distante, quando estamos esperando hoje por um cônjuge, um filho, um diagnóstico ou tratamento, ou uma maneira de pagar nossas contas. A perseverança só nos parece factível caso saibamos por quanto tempo isto durará.

Mas, mesmo que tivéssemos uma data no calendário, ainda assim encontraríamos uma maneira de ficarmos ansiosos por isto ou de tentarmos acelerar as coisas. Esperar desta maneira não cultiva a confiança no Deus que cuida de nós e ordenou nossos passos. Se nossa confiança em Deus depender de uma linha do tempo terrena garantida, na verdade, não estaremos confiando nele. Estaremos confiando em nossa programação.

‘Quem?’ Trará Satisfação

Após uma década de espera, finalmente parei de perguntar quando e porque, ao abrir a Bíblia a cada dia. Eu não tinha conseguido distorcer as Escrituras para dizerem algo que Deus não havia dito, e havia me cansado de tentar.

Em vez disso, comecei a perguntar: “Deus, quem é você?” Nos dois anos seguintes (enquanto ainda esperava para que minhas circunstâncias mudassem), a cada dia, escrevi todas as coisas que aprendi nas Escrituras sobre Deus. Juntei muitos cadernos empilhados, com cada página cheia de anotações sobre seu caráter, bondade, amor, misericórdia e graça. Eu já sabia destes fatos em minha cabeça, mas agora eu os vi revelados a cada dia. Na dor e tristeza — e na alegria e riso — aprendi que ele é santo, justo, sábio, soberano, fiel e presente.

Aprender sobre o caráter de Deus me ensinou a confiar nele, a esperar em paz, porque ele se provou fiel uma vez após a outra. Ele enviou Jesus para suprir minha maior necessidade, a de ter meus pecados pagos na cruz. Um Deus tão cheio de graça e gentil merece minha confiança ao esperar por outras necessidades menores. Tal como Paulo nos encoraja: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Rm 8.32).

Ao aguardarmos por esperanças adiadas, podemos encontrar conforto no caráter imutável de Deus, sabendo que nossa esperança última está ancorada nele.

Traduzido por Vittor Rocha

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