Afro-americanos são soltos após 24 anos presos por crime que não cometeram

by @prflavionunes

Um erro judicial levou três homens inocentes a passarem quase um quarto de século na prisão por um crime que, segundo provas que deixaram de ser apresentadas durante o julgamento, eles não cometeram. Um juiz distrital do Queens (Nova York) anulou nesta sexta-feira as condenações dos três supostos autores de um duplo latrocínio perpetrado em 1996 nesse distrito, além de advertir os promotores do caso por terem retido provas que geravam sérias dúvidas sobre a responsabilidade dos réus, condenados a penas que oscilavam de 50 anos de reclusão à prisão perpétua.

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Às vésperas do Natal de 1996, o dono de uma empresa de mudanças e seu guarda-costas, um policial em horário de folga, foram assaltados e mortos a tiros por um grupo de homens. Após vários dias de incessante caçada, três homens foram presos como suspeitos e posteriormente julgados separadamente. Todos eles foram mantidos presos até esta sexta, quando saiu a decisão do juiz do Queens que desmonta o caso.

Segundo a nova sentença, os promotores sonegaram trechos do inquérito policial em que os investigadores atribuíam o duplo latrocínio a outros autores, membros de uma quadrilha local. Os relatos de cinco testemunhas, aos quais a defesa dos réus nunca teve acesso, contradiziam as confissões dos acusados, que por sua vez descreviam detalhes equivocados sobre o local do crime e, segundo seus advogados, foram obtidas sob coação.

“Conseguimos”, exclamou Rohan Bolt, de 59 anos, ao deixar a penitenciária de Green Haven, no Estado de Nova York. Ao seu lado, e levantando o punho em sinal de vitória, saíam também Gary Johnson, de 46 anos, e George Bell, de 44, os três afro-americanos condenados injustamente. Com lágrimas nos olhos, eles abraçaram seus familiares, e Bolt pôde acariciar pela primeira vez os seus netos, como relata a edição digital do jornal The New York Times.

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“A promotoria distrital ocultou deliberadamente da defesa informações fidedignas sobre o envolvimento de terceiros”, disse o juiz Joseph A. Zayas em uma audiência virtual, na qual recriminou duramente a prevaricação do Ministério Público, “por abdicar completamente da sua responsabilidade na busca pela verdade”, provavelmente por saber que aquelas provas ocultadas acarretariam a declaração de inocência dos réus, levando o caso à estaca zero.

Bolt, Johnson e Bell já podem dormir em suas casas, com suas famílias, mas a atual promotora distrital do Queens, Melissa Katz, ainda não os considera inocentes. Embora tenha apoiado a anulação das sentenças devido ao surgimento das novas provas, ela pretende reavaliar o caso nos próximos 90 dias, para então decidir se eles devem ser julgados outra vez.

Os advogados dos três homens criticam a promotora Katz por ter levado meses até aceitar a libertação dos seus clientes, inclusive depois de revisar as provas que sustentam a decisão do juiz Zayas. A defesa considera que Katz “nega aos homens toda a justiça que merecem”, mesmo com a acusação contra eles sendo desmontada. No ano passado, Katz criou uma unidade especial para reavaliar possíveis erros judiciais.

O caso dos três afro-americanos do Queens soma-se a uma longa lista de erros crassos no Judiciário norte-americano. Em 2015, um preso de origem mexicana foi inocentado após passar 20 anos atrás das grades por um estupro que não cometeu. Em 2019, o Estado da Califórnia pagou uma indenização de 21 milhões de dólares (119,5 milhões de reais, pelo câmbio atual) a um homem inocente que passou 39 anos preso por dois crimes dos quais não era culpado. São apenas dois exemplos em meio a um grande volume de casos no qual um traço recorrente é o envolvimento de afro-americanos e membros de outras minorias.

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