Bolsonaro indica general como novo presidente da Petrobras e põe mercado em alerta por temor de intervenção

by @prflavionunes

Após dois dias de críticas à Petrobras por causa da política de preços dos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro anunciou na noite desta sexta-feira que irá indicar o general Joaquim Silva e Luna para substituir Roberto Castello Branco na presidência da estatal. “O Governo decidiu indicar o senhor Joaquim Silva e Luna para cumprir uma nova missão, como conselheiro de administração e presidente da Petrobras, após o encerramento do ciclo, superior a dois anos, do atual presidente, senhor Roberto Castello Branco”, afirmou o presidente em postagem nas redes sociais. Indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, Castello Branco foi nomeado no fim de 2018 para um mandato de dois anos em 20 de março de 2019. Na próxima segunda-feira, dia 23 de fevereiro, já estava marcada uma reunião do conselho de administração para deliberar, entre outros assuntos, a recondução do atual presidente da estatal, para mais um mandato de até dois anos.

Na noite de quinta-feira, Bolsonaro chegou a dizer que “obviamente” teria consequência a declaração de Castello Branco que dias atrás havia dito que a ameaça de greve de caminhoneiros não era problema da Petrobras.

Na tarde desta sexta-feira, Jair Bolsonaro voltou a afirmar em uma visita-relâmpago ao Pernambuco que haveria mudanças na Petrobras. “Teremos mudança sim. Jamais vamos interferir nesta grande empresa e na sua política de preços, mas o povo não pode ser surpreendido com certos reajustes”, afirmou. Bolsonaro cobrou ainda transparência de todos aqueles que ele teve a responsabilidade de indicar, já mandando um recado claro ao presidente da estatal, Roberto Castello Branco. A declaração ocorre um dia após o presidente, irritado com os novo aumento dos combustíveis, criticar a Petrobras em uma transmissão ao vivo e informar que, a partir de 1º de março, o imposto sobre o diesel será zerado por dois meses. O temor de uma interferência política na estatal repercutiu no mercado financeiro e fez as ações da Petrobras despencarem quase 8% nesta sexta-feira.

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“O mercado entendeu como muito negativa essa fala por conta de um sinal que é sempre muito ruim em termos de governança das empresas. Em um passado recente, a grande crítica que havia sobre as estatais era essa interferência política, mas que foi melhorando após a mudança de algumas regras”, afirma Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da FGV. Para Sampaio, as declarações de Bolsonaro trazem à tona essa sensação de interferência e ingerência, assim como aconteceu com a ex-presidenta Dilma Rousseff. “É claramente um aceno político a categoria dos caminhoneiros [grupo que tem apoiado o presidente], mas que pesa muito no mercado”, completa.

A declaração de Bolsonaro “renova preocupações que já existiam sobre a autonomia da estatal”, disse à Reuters Thayná Vieira, economista da Toro Investimentos. “Bolsonaro já havia falado que não interferiria na Petrobras, mas seus comentários geraram incerteza”, disse. A corretora XP também avalia que as falas do presidente repercutem negativamente “tendo em vista a maior percepção de riscos para autonomia da estatal e de sua política de combustíveis”.

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O anúncio da redução do tributo do diesel nas refinarias por 60 dias também está no radar dos investidores e não foi vista com bons olhos entre os agentes de mercado, já que a medida causará impacto bilionário nas contas do Governo. O presidente não deu detalhes de qual seria a estimativa de perda de arrecadação e tampouco como ela será compensada nas contas públicas, que estão no vermelho há mais de seis anos.

Reajuste “fora da curva”

Nesta quinta-feira, a Petrobras anunciou dois novos reajustes nos preços da gasolina e do diesel, que aumentarão 10,2% e 15,1%, respectivamente, a partir desta sexta-feira. É o quarto reajuste da gasolina e o terceiro do diesel em 2021. Só neste ano, o preço da gasolina vendida pela Petrobras acumula alta de 34,7%. O diesel subiu 27,7% no mesmo período.

Bolsonaro considera que o último reajuste de preço da Petrobras foi “fora da curva” e busca uma solução para atender principalmente ao interesse dos caminhoneiros. “Teve um aumento, no meu entender, aqui, eu vou criticar, um aumento fora da curva da Petrobras. 10% hoje na gasolina e 15% no diesel. É o quarto reajuste do ano. A bronca vem sempre para cima de mim, só que a Petrobras tem autonomia”, afirmou na quinta.

Essa não foi a primeira vez que Bolsonaro falou em alterar os preços dos combustíveis e reduzir tributos do diesel. Sem margem de manobra para atender as reivindicações dos caminhoneiros, que chegaram a chamar uma paralisação no início do mês, o presidente saiu pela tangente e anunciou um projeto de lei para que o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), um tributo estadual que incide sobre os combustíveis, seja pago nas refinarias e não nos postos de gasolina (onde o valor é mais caro) ou tenha um valor fixo.

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