É mais fácil Bolsonaro intervir no STF do que incomodar o coronavírus – UOL Notícias

by @prflavionunes

O Brasil está prestes a registrar 100 mil mortes por covid-19, um marco vergonhoso na guerra contra o coronavírus. Enquanto isso, o ministro interino da Saúde, que é um general, gasta tempo precioso recebendo defensores da aplicação de ozônio pelo ânus para tratar a doença.

Médicos e cientistas dizem que o método tem tanta eficácia comprovada para tratamento quanto ser bicado por emas.

Um governo coalhado de militares deveria ostentar capacidade de elaboração de estratégia para o enfrentamento à crise sanitária. Suas grandes batalhas, contudo, têm sido a terceirização da responsabilidade para o colo de prefeitos e governadores e o convencimento da população de que o inimigo é superestimado.

Agindo como um bom traidor, Bolsonaro vai conquistando territórios. Para o vírus.

Mas ao mesmo tempo em que demonstra não ter interesse em liderar o país para articular um plano de nacional de combate à doença, organizando a entrada e a saída do país em quarentenas e bloqueios totais, o que salvaria a vida de milhares de brasileiros, o presidente foi bem rápido para planejar um autogolpe militar.

Reportagem de Monica Gugliano, na revista piauí, revela com detalhes como a Suprema Corte quase virou vinagre no dia 22 de maio deste ano. Irritado com a possibilidade de ter seu telefone e o de seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro, apreendidos no curso da investigação de uma notícia-crime, Jair disse a seus assessores diretos que iria baixar a boduna no Supremo Tribunal Federal.

“Bolsonaro queria mandar tropas para o Supremo porque os magistrados, na sua opinião, estavam passando dos limites em suas decisões e achincalhando sua autoridade. Na sua cabeça, ao chegar no STF, os militares destituiriam os atuais 11 ministros. Os substitutos, militares ou civis, seriam então nomeados por ele e ficariam no cargo ‘até que aquilo esteja em ordem’, segundo as palavras do presidente”, afirma a reportagem baseada em relatos de pessoas que estiveram na reunião.

O ministro-chefe da Casa Civil, general Braga Netto, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, o ministros da Justiça, André Mendonça, e o chefe da Advocacia-Geral da União, José Levi, participaram da discussão com Bolsonaro para descobrir uma forma de dar um verniz legal à deposição do STF.

Como não havia ordens para a apreensão do celular e como Heleno prometeu uma nota pública de claro teor antidemocrático, Bolsonaro voltou para a casinha. Por enquanto.

O bolsonarismo tem um componente revolucionário, subvertendo diariamente as instituições e falando diretamente com a sua massa. Tomará de assalto a democracia quando aparecer a oportunidade, colocando uma coisa feia no lugar se a população e as instituições assim permitirem. Ou seja, o episódio é assustador porque não é surpreendente.

E ele lembra não apenas o fato de que vivemos com um candidato a tirano sentado no Palácio do Planalto, esperando uma chance rodeado de viúvos da ditadura, sejam eles militares ou civis, mas também que Bolsonaro pode ser uma pessoa de ação – mas só quando isso diz respeito à preservação de sua vida e a de seus filhos.

Se o presidente da República consegue tomar uma decisão de proporções apocalípticas, como mandar tropas para depor a cúpula de outro poder, ele não produz ações concretas diante do coronavírus porque não quer.

Aquilo que parece incompetência do governo no trato com a pandemia, portanto, é parte da estratégia do presidente de forçar os brasileiros a voltarem à vida normal, acreditando (de forma equivocada) que isso levará a uma redução na perda do PIB. Está mais preocupado com a situação da economia em 2022 que com as vidas das pessoas hoje. Afinal, como ele mesmo diz, todo mundo morre.

Há um certo sadismo em tudo isso. Já temos que lidar com uma pandemia assassina que já matou mais de 97 mil pessoas por aqui e com a ameaça de uma milícia tomar de assalto a democracia com um cabo e um soldado. Além disso, também temos que aguentar um presidente que ri da nossa cara ao empurrar as arritmias cardíacas da cloroquina, as tonturas da ivermectina e o ozônio no reto.

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