No campo das experiências humanas temos uma variedade, quase que ilimitada, de possibilidades de realização sensível. Algumas experiências sensíveis, como cheiros ou sabores, são, geralmente, bem lembradas. Estamos sempre diante de nostalgias, sejam boas ou ruins. A experiência propõe forma para as memórias e oferece uma perspectiva de análise do mundo.
A experiencia literária é, de igual modo, uma promotora de forma às memórias, bem como uma proposta de análise do mundo. C.S. Lewis mesmo chega a dizer que “cenas e personagens dos livros lhes fornecem um tipo de iconografia com a qual interpretam ou sintetizam a sua própria experiencia”. A literatura é uma ferramenta para análise do mundo, sendo ela mesma, um produto de certa perspectiva – do autor – na letra, na obra literária.
Neste ponto, temos o nascer da nossa questão. A literatura, por sua natureza também hermenêutica, por meio da linguagem – considerando a origem divina – pode ser uma ferramenta para a organização das experiencias, enquanto formadora do imaginário. O imaginário é construído por uma série de elementos e aqui, em parte, é apoiada nos sentidos. Um desses elementos é o literário.
Longe do grande debate da “imagem” (ou “ideia”) como a grande mediadora na distância entre a consciência e o objeto, é possível afirmar que certas representações internas fazem parte da construção pessoal do conhecimento. Sem querer cair no relativismo, é importante mencionar que não se trata de mera construção social, mas da própria possibilidade do ser, no que tange a experiencia sensível e o contato com o dado, como por exemplo, língua ou cor de pele.
Reale, ao discutir a desmitização, aponta a mudança de foco da poesia (literatura) da própria imaginação, para o “saber científico” (técnica e ideologia), chamando-os de novos mitos. Estes mitos aparecem e tomam o lugar das imagens fantásticas da antiguidade. Eles medeiam a lacuna da experiência, dando-lhe a forma de suas suposições. Schaeffer chega a afirmar que estas mudanças têm relação muito próxima com as produções artísticas.
Dante, em A Comédia, denominada “A Divina Comédia” por Bocage, constrói o imaginário popular do Inferno em uma lacuna teológica. Nos escritos do Novo Testamento, parece não haver grande quantidade de informações quanto ao inferno, ainda que muitos indicativos estejam lá. E, na obra dantesca, este “vazio” é suprido. A figura dos condenados, dos diabos, dos juízos são, além da bela coroa da obra, um importante mediador da experiência religiosa.
Essas figuras estão fixas no imaginário por seu valor afetivo e norteador. Em “A imagem descartada”, C.S. Lewis discute o apelo imaginativo do modelo medieval, que perpassa pelas obras dos períodos posteriores. Esse modelo é constitutivo no que diz respeito à organização do pensamento social – o modelo dá tônus ao imaginário, por meio de suas reminiscências. Ele pode instigar o rubor das produções literárias com maior ou menor intencionalidade, sendo, contudo, estrutura base que se estende para suporte e organização da cultura.
É inevitável, sobretudo, perceber que a experiência literária também pode ser uma experiência teológica. Há um Deus em Macbeth, de Shakespeare, assim como há uma espiritualidade que dá tônus à Dom Casmurro, de Machado de Assis. Teologia tem sido discutida em gêneros literários variados e não necessariamente dentro dos considerados sagrados. Mas, assim como a religiosidade é plano de fundo para Florbela Espanca, também o é para C.S. Lewis em as Crônicas de Nárnia.
Dentro deste diálogo vivo entre teologia e literatura abre-se uma lacuna para a formação do próprio imaginário. As flexões teológicas dentro de obras variadas são, antes de qualquer coisa, uma expressão da experiência religiosa. A obra literária sempre será fruto de uma experiência vivida, já que ser é sempre ser em referência de outro. Logo, o que é estritamente literário pode ser reflexivamente teológico – não há um caminho do meio. Há um diálogo vivo.
Deste modo, a Teologia pode ser poesia, romance policial ou ficção cientifica. O que Teologia nunca pode ser é neutra, seca, feia, rígida e sem graça. Há um espaço para uma Teologia que dialoga por meio do literário, comunicando seu conceito como história, como bem reconhece Héber Campos Junior. Experimentar boa literatura pode ter o gosto do céu.
O imaginário é alimentado por vários elementos, dentre eles a literatura. Essa formação passa pelas figuras guardadas para a interpretação da própria vida. O bom samaritano, a pérola de grande valor, as dez virgens, o mordomo infiel, o próprio Cristo comunicam enquanto também oferecem imagens que enquadrem a experiência dos ouvintes e leitores. Há um lugar para tal na literatura. Há um espaço para criação do imaginário teológico a partir da experiencia literária.
O saber teológico preso dentro de formas rígidas não perde sua natureza, mas também parece não alcançar toda a sua potência. Os livros do primário, a poética, o romance e a ciência formam novas roupagens para o conteúdo dos postulados do cristianismo histórico. Como coloca C.S. Lewis, quando diz que “o que queremos não é mais pequenos livros sobre cristianismo, mas pequenos livros escritos por cristãos sobre outros assuntos – com cristianismo latente”, ouso dizer que uma das áreas onde precisamos de vocacionados é na literatura. Uma boa história pode nascer de uma boa teologia e o teológico pode estar também no literário.
Acredito que somos, também, chamados a participar da vida cultural com produção que se veste de música, que recita uma epopeia, que vê dragões e cavaleiros, que combina sons em versos, que não apenas escreve, mas descreve, cria, no teatro, sob à luz de anti-heróis, discutindo o mundo, a vivência, a Teologia, a Escritura. O Verbo encarnado deve ser ato na produção literária – o cristianismo latente. Somos chamados, acredito eu, para agradar a Deus dando vazão ao teológico, enquanto cria e descreve histórias.
LEWIS, C.S. Deus no banco dos réus. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2018
LEWIS, C.S. Uma experiência em crítica literária. São Paulo: Editora UNESP, 2009
LEWIS, C.S. A imagem descartada: para compreender a visão medieval do mundo. São Paulo: E Realizações, 2015
JUNIOR, Heber Campos. Amando a Deus no mundo: por uma cosmovisão reformada. São José dos Campo, SP: FIEL, 2019
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