Por que você deveria comprar pão, estender a roupa e fazer reuniões ambulantes durante o teletrabalho

by @prflavionunes

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Há uma situação recorrente na série Scandal: os protagonistas mantêm reuniões altamente sigilosas enquanto correm pelo bosque. Ou marcam de conversar no meio de um parque. Agem assim por motivos de segurança (não há maneira humana de plantar microfones), e de quebra aproveitam para mexer o esqueleto. São as outdoor meetings (reuniões ao ar livre) e as running meetings (reuniões de negócio misturadas com corrida).

Não se trata de uma invenção dos roteiristas de Hollywood. Reunir-se de pé e ao ar livre, ou fazendo esporte, é uma tendência em alta e com múltiplos benefícios. Só por ficar em pé nosso organismo consome 0,15 quilocaloria a mais por minuto. Para uma pessoa de 65 quilos, passar seis horas por dia em pé, em vez de sentada, significa um gasto adicional de 54 calorias por dia. Parece pouco, mas é o mesmo que queimar 2,5 quilos de gordura por ano. Aí já começa a ficar interessante.

Chegam as walking meetings

A consultora Angie Morgan contava à revista Runner’s World que sempre que pode sai para correr com seus clientes. As vantagens são óbvias: máxima privacidade, zero distração (adeus aos tediosos Powerpoints) e um ambiente descontraído e favorável à inteligência emocional. Além disso, os participantes reduzem o sedentarismo por razões de trabalho e respiram um ar bem menos viciado que numa sala de reuniões. É um alívio para quem fica ansioso só de pensar na ideia de se trancar num escritório.

Correr não é imprescindível. Pode-se fazer o mesmo em ritmo de passeio agradável, mesmo em tempos de pandemia (desde que observadas as medidas de segurança determinadas pelas autoridades a cada momento, como o uso de máscaras). É o que começa a ser chamado de walking meeting, ou reunião ambulante. “Qualquer opção de trabalho que faça você se mexer durante a jornada de trabalho é positiva. O ideal seria fomentar a máxima atividade que cada posto de trabalho permitir, combinando períodos ativos e períodos em sedestação [sentado]”, afirma Laura Morales Ruiz, médica reabilitadora do Hospital Universitário Infanta Leonor, de Madri, e integrante da Sociedade Espanhola de Reabilitação e Medicina Física (SERMEF).

Quanto menos cadeira, melhor

Caso não seja possível sair do escritório (ou do home office), alterne a cadeira com momentos de trabalho em pé, inclusive quando estiver mexendo no computador. Essa é a função das standing desks: mesas de altura regulável, que permitem trabalhar sem se sentar. “Ficar em pé não sobrecarrega a região lombar, porque o peso se distribui ao longo da coluna vertebral e as pernas. Além disso, permite alternar a carga entre uma perna a outra, ou fazer pequenas caminhadas. E é mais difícil adotar posturas inadequadas”, diz Morales Ruiz.

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Para que esse tempo de pé não sobrecarregue o sistema circulatório e provoque as temidas varizes, basta mudar a regulagem da mesa de vez em quando. Assim você trabalha um pouco de pé, e outro pouco sentada. “Muito melhor se for sobre uma fitball ou bola de Pilates. Por ser instável, obriga a sutis mudanças de posição da pélvis e dos membros inferiores. Assim aliviamos as sobrecargas. Também é recomendável intercalar momentos de descanso a cada 30 minutos com alongamentos, prestando especial atenção às cervicais, braços, a zona lombar e a parte posterior das pernas”.

Aproveite e compre pão

Se antes da pandemia o sedentarismo da população adulta já era um problema, com o teletrabalho a coisa só piorou. Já não é mais preciso caminhar até o metrô, nem sair para tomar um café no meio da manhã. Acabou-se até aquela andadinha até a máquina de xerox. Você não está sozinha se em alguns dias mal supera os 2.000 passos, e todos os seus deslocamentos se limitam a entrar e sair da sala, da cozinha e do quarto. “Este novo sedentarismo poderia ser rebatido alternando as tarefas que precisam necessariamente ser feitas estando quieto ou sentado, com outras que permitam dar uns passos pela residência ou o escritório. Inclusive, se for possível, sair para a rua”, diz a especialista.

É hora de deixar de lado o complexo de culpa e a cultura presencial tão enraizada na mentalidade da nossa sociedade, que determina que o trabalhador precisa estar sempre em sua mesa. Trabalhar por produtividade, e não pelas horas previstas em contrato, faz bem para a saúde. Se você estiver em casa, pode aproveitar esses descansos para se alongar. Além, claro, de incorporar outras atividades físicas que deem um descanso à mente. Por exemplo, estender a roupa lavada, sair para comprar pão ou descer para buscar a correspondência (evitando o elevador). “Uma boa alternativa se não quisermos sentir que estamos nos ausentando do trabalho é aproveitar esse momento de caminhadas para fazer telefonemas ou ouvir informações em formato de áudio. E, naturalmente, evitar o sedentarismo desnecessário, suprimindo o uso de veículos automotivos sempre que for viável. É preferível fazer os deslocamentos caminhando ou de bicicleta.”

Pelo bem das suas costas

A falta de atividade física está relacionada ao aumento do colesterol, maior resistência à glicose e, de quebra, danos cardiovasculares. Como se fosse pouco, Xoán Miguéns Vázquez, médico reabilitador e vice-presidente da SERMEF, adverte que as costas se ressentem muito do sedentarismo. Diferentemente de outras dores habituais em nossa sociedade, como a cefaleia, que é bastante imprevisível, “no caso da dor lombar podemos fazer muito, tanto para prevenir sua aparição no futuro como para melhorar o que sofremos atualmente. E essa terapia é o exercício. Um músculo treinado e forte suportará melhor as exigências do dia a dia.

Se estiver fraco, essa responsabilidade é transferida ao osso e a articulações vizinhas. No final, à dor de um músculo esgotado e com contratura se somam mais sobrecargas e mais dor”. Ficar de pé de vez em quando é um primeiro passo para romper esse círculo vicioso. Suas costas agradecerão. E, ao final de um ano, possivelmente sua cinturinha também.

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