A Base Teológica Para a Doutrina do Inferno

by @prflavionunes

por Norman Geisler – qua mar 10, 12:33 pm

A Escritura apresenta muitas outras razões para a existência do inferno. Uma delas é que ele é uma exigência da justiça, e Deus é justo (cf. Rm 2). Ele é tão puro de olhos que não pode ver o pecado (Hc 1.13). “Para com Deus, não há acepção de pessoas” (Rm 2.11), e “não faria justiça o juiz de toda a terra?” (Gn 18.25).

Não deixa de ser um simples fato que os maus devem ser punidos nessa vida, porém muitos observaram que os ímpios às vezes prosperam (cf. Sl 73.3). Assim, será necessário que exista um lugar de punição além da vida para os ímpios para preservar a justiça de Deus. Na sua vigorosa defesa, Jonathan Edwards (1703-1758) observou que mesmo um único pecado merece o inferno:

“O Deus santo e eterno não pode tolerar qualquer pecado. Quanto mais, então, uma multidão de pecados diários em pensamentos, palavras e atos? Isso tudo acrescido do fato de rejeitarmos a imensa misericórdia de Deus. E adicionando a isso a disposição do homem de encontrar falhas na justiça e na misericórdia de Deus, teremos evidências abundantes da necessidade do inferno. [Desta maneira,] se tivéssemos uma verdadeira consciência espiritual, não ficaríamos admirados com a severidade do inferno, mas com a nossa própria depravação (Works of Jonathan Edwards, 1.109).”

A Bíblia mostra que “Deus é amor” (1Jo 4.16), e o amor não pode ser coercivo, mas persuasivo. Um Deus de amor não pode obrigar as pessoas a amá-lo; respondemos ao seu amor livremente, e não porque somos obrigados (1Jo 4.19; 2Co 9.7). Deus não se impõe sobre os seres humanos contra o arbítrio que lhes concedeu (cf. Mt 23.27), de modo que aqueles que não desejam amar a Deus devem ser desobrigados desse sentimento. Aqueles que decidem não estar com Ele devem ter permissão para ficar separados dEle. O inferno é a eterna separação de Deus.

Se não existisse o inferno, não haveria uma vitória final sobre o mal. O mal frustra o bem. O trigo e o joio não podem crescer juntos para sempre (cf. Mt 13.40,41), e se não houvesse uma definitiva separação o bem não iria triunfar completamente e Deus não teria o controle supremo. A soberania de Deus exige um inferno; e a Sua Palavra declara que Ele tem a suprema vitória sobre o mal (cf. 1Co 15.24-28; Ap 20-22).

John Edwards argumentou: “É extremamente injusto supor que não deva existir nenhum castigo futuro, supor que Deus, que criou o homem como uma criatura racional capaz de conhecer o seu dever e sensível ao fato de que merece ser castigado quando não o cumpre, devesse deixar o homem sozinho para viver como desejasse e nunca puni-lo pelos seus pecados, sem nunca fazer a diferença entre o bem e o mal (Works of Jonathan Edwards, 2.884).

O único castigo justo pelo pecado contra o Deus eterno é um castigo eterno. Deus é absolutamente perfeito (Hc 1.13; Mt 5.48), e os seres humanos são irremedivelmente pecadores.

Disse o néscio no seu coração: Não há Deus. Têm-se corrompido, fazem-se abomináveis em suas obras, não há ninguém que faça o bem. O Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um (Salmos 14.1-3).

Na verdade que não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque (Eclesiastes 7.20).

Porque não há retidão na boca deles; as suas entranhas são verdadeiras maldades, a sua garganta é um sepulcro aberto; lisonjeiam com a sua língua (Salmos 5.9).

Aguçaram as línguas como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios (Salmos 140.3).

Sua boca está cheia de maldições, mentiras e ameaças; violência e maldade estão em sua língua (Salmos 10.7);

Os seus pés correm para o mal, e se apressam para derramarem o sangue inocente; os seus pensamentos são pensamentos de iniquidade; destruição e quebrantamento há nas suas estradas. Não conhecem o caminho da paz, nem há justiça nos seus passos; fizeram para si veredas tortuosas; todo aquele que anda por elas não tem conhecimento da paz (Isaías 59.7,8).

A transgressão do ímpio diz no íntimo do meu coração: Não há temor de Deus perante os seus olhos (Salmos 36.1).

Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus (Romanos 3.19).

Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que        creem;    porque   não         há                      diferença. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; (Romanos 3.19,22,23).

O homem mais sábio que já viveu disse: “Vede, isto tão-somente achei: que Deus fez ao homem reto, mas ele buscou muitas invenções” (Ec 7.29). Em iniquidade somos formados (Sl 51.5), e somos “por natureza filhos da ira” (Ef 2.3):

Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis (Romanos 1.21-23).

Como pode alguém supor que a depravada e impenitente rebelião contra uma impecável e imaculada santidade não mereça a ira de Deus?

Deus criou os seres humanos para serem livres; Ele não irá (não poderá) forçar as pessoas a irem para o céu contra essa liberdade; assim, a dignidade humana exige um inferno. Jesus disse: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apredrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” (Mt 23.37). C.S. Lewis (1898-1963) explicou: “No final, existem apenas dois tipos de pessoas: aquelas que dizem a Deus: ‘Seja feita a tua vontade’, e aquelas a quem Deus diz, no final: ‘Seja feita a tua vontade’” (God in the Dock, 69).

A Cruz está no centro do cristianismo (1Co 1.17,18; 15.3); ela representa o verdadeiro propósito da vinda de Cristo a esse mundo (Lucas 19.10; Marcos 10.45). Sem Ele a salvação seria impossível (Atos 4.12; João 10.1,9,10; Rm 4.25; Hb 10.14,15), e somente através da sua obra podemos receber a libertação dos nossos pecados (Rm 3.21,16). Jesus sofreu uma inimaginável agonia e até a separação do Seu amado Pai (Hb 2.10-17; 5.7-9). À espera da Cruz, “o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue” (Lc 22.44).

Por que existiria a Cruz e todo esse sofrimento se não houvesse um inferno? Se não houvesse um inferno para evitarmos, então a cruz teria sido em vão. A morte de Cristo teria tido o seu significado eterno roubado, a não ser que houvesse um inferno como destino final para o qual as almas pecadoras seriam entregues.

Não são apenas os cristãos que reconhecem ou demonstram a realidade do inferno. Sigmund Freud (1856-1939) definiu a ilusão como “concepções que são oriundas dos desejos humanos”. E acrescentou: “Dizemos que a convicção é uma ilusão quando a realização de um desejo representa um fator proeminente na sua motivação, e [quando] ao fazê-lo estamos desprezando suas relações com a realidade” (veja Sigmund Freud, Future on an Illusion, 38-40). Em termos da evidência do inferno, a sua negação é uma forte candidata a ser uma ilusão. A respeito da religião, Freud disse: “Dizemos a nós mesmos que seria muito bom se houvesse um Deus que criou o mundo e se mostrasse como uma bevevolente Providência […] mas não deixa de ser bastante surpreendente que tudo isso seja exatamente aquilo que estamos inclinados a desejar que fosse realmente” (ibid. [mesma referência], 52-53). Podemos reformular esta frase como: Podemos dizer a nós mesmos que seria maravilhoso se não houvesse o inferno ou nenhum dia de juízo final no qual seremos responsáveis por todos os nossos atos, mas não podemos deixar de observar que tudo isso é exatamente aquilo que naturalmente desejamos que seja verdade.

Um outro ateu, Walter Kaufmann (1921-1980), admitiu que a crença no inferno não está baseada em uma ilusão: “Acontece que nem todo aquele que acredita no inferno está sendo impelido pelo que deseja que seja verdade […] a crença no inferno não se originou dessa forma” (Walter A. Kaufmann, A Critique of Religion and Philosophy, 135). Na verdade, isso não aconteceu; entretanto, a descrença no inferno pode realmente ter se originado dessa maneira. As pesquisas revelaram uma interessante estatística a esse respeito. Embora a maioria das pessoas da América do Norte acredite na realidade do inferno, poucas acreditam que vão para lá. Isso poderia ser uma ilusão ainda maior do que aquela dos que negam a existência do inferno.”

Cada autor é responsável pelo conteúdo do artigo.

Pr. Flávio Nunes

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