Depois de IPO e ano de alta do e-commerce, o que será da Méliuz em 2021?

by @prflavionunes

A Méliuz divulgou nesta quarta-feira, 31, o balanço financeiro do quarto trimestre de 2020 e o resultado consolidado do ano passado. Desde que abriu capital na Bolsa, em novembro, a Méliuz anima investidores, e os resultados do período devem reforçar o bom momento da empresa depois de um ano de ouro marcado pela expansão na base de clientes, usuários ativos e um IPO bilionário.

Fundada em 2010, a Méliuz funciona como uma espécie de plataforma de conexão entre consumidores, prestadores de serviços e marcas varejistas. O que a empresa chama de esquema de “ganha-ganha-ganha”, nada mais é do que basear sua atuação nos estornos – os famosos cashbacks. As empresas pagam para estar na plataforma, consumidores recebem parte do dinheiro das compras de volta e a Méliuz tem acesso a um leque infinito de dados. Todos ganham.

“Somos uma das maiores plataformas de e-commerce do país sem vender nenhum produto e sem ter de entregar nada”, disse o presidente e fundador da Méliuz, Israel Salmen, em entrevista à EXAME em fevereiro.

Entre os meses de setembro e dezembro de 2020, a empresa registrou uma receita líquida de 43,3 milhões de reais, um crescimento de 80% frente ao mesmo período do ano anterior. Ao longo de todo o ano, a receita líquida foi de 125,4 milhões. Com o resultado, a Méliuz estabeleceu uma taxa de crescimento anual de 69% desde 2017.

Já o EBITDA (margem de lucro antes de encargos e depreciações) registrado foi de 5,6 milhões de reais no período, e 30,3 milhões de reais no acumulado do ano, um crescimento de 186% quando comparado ao desempenho de 2019.

Foram 2,5 bilhões de reais movimentados na plataforma – 1,1 bilhão de reais apenas no quarto trimestre. Quando pediu o registro para fazer a oferta de ações, a empresa tinha 10 milhões de usuários cadastrados. Terminou dezembro com 14 milhões.

A Méliuz também inaugurou a safra de aberturas de capital de empresas de tecnologia e startups na B3, um movimento seguido por Locaweb e Enjoei. Quando fez seu IPO, a empresa era avaliada em 1,25 bilhão de reais. Hoje, vale 3,5 bilhões.

Mesmo com números tão positivos, a pergunta que fica é para onde a Méliuz deve olhar para, ao mesmo tempo em que atrai empresas e conquista a empatia do mercado, seja capaz de expandir a oferta de soluções financeiras e fortalecer o ainda embrionário mercado de cashbacks.

Em 2020, a Méliuz lançou um novo serviço atrelado à Nota Fiscal e que também oferece cashback, além de lançar mão de parcerias com empresas de delivery e streaming para a venda de gift cards, os cartões pré-pagos.

O futuro dos cupons

A Méliuz se posiciona como uma empresa de tecnologia e inteligência de dados para as relações de consumo e é esse o grande diferencial competitivo da companhia, segundo Eduardo Yamashita, diretor de operações da Gouvêa Ecosystem, consultoria especializada em varejo.

Na visão de Yamashita, a alta no e-commerce beneficiou a Méliuz, mas os principais destaques da empresa ainda são o investimento massivo em tecnologia e o uso inteligente dos dados contidos no marketplace. “Eles conhecem dados, perfis de compra e isso é um mercado com grande potencial”, diz. “Hoje, a Méliuz está menos no mercado de cashback e mais no mercado de marketplace”.

O cashback, nesse cenário, serve de fio condutor para reter os clientes dentro da plataforma e aí então, ter a chance de oferecer a eles um leque ainda maior de serviços, segundo o especialista.

A análise vai de encontro ao divulgado pela empresa em seu último balanço, quando justificou os bons resultados operacionais com o crescimento dos parceiros no marketplace, apesar de ter tido uma queda nas receitas de empresas do setor de turismo e viagem.

Com aumento das vendas pela internet, os cupons de desconto e estornos de compras movimentaram mais de 1,5 bilhão de reais no primeiro semestre, segundo o portal de ofertas Cuponomia.

Para o analista Valter Pieracciani, a modalidade é positiva para o varejo, pois fideliza os clientes. Do ponto de vista do consumidor, a tendência é positiva e traz maior autonomia e poder de escolha.

Para ele, o mercado de cashbacks tende a ser beneficiado com a alta no e-commerce, mas atua de maneira isolada e tem crescimento independente.

Em maio do ano passado, a Méliuz deu o que seria o primeiro passo rumo à integração de diferentes atores do varejo no mundo do estorno. A ação, que ficou conhecida como “Dia do Cashback”, mobilizou marcas como Magazine Luiza,  Dell, Centauro, Boticário, Adidas, Acer, Seculus, Natura, Carrefour, Marisa e Renner a devolverem ao consumidor de 5% a 17% do valor das compras feitas na plataforma da Méliuz.

Em meio a um cenário competitivo e com presença robusta de gigantes do varejo, uma estratégia válida para as empresas de cashback – entre elas a Méliuz – é engajar a indústria e as grandes fabricantes de produtos, segundo Pieracciani. “A ideia será sentar com Nestlé, P&G e fazê-los aderir a esse movimento”, diz. O benefício será  a troca de dados. “Essa será a principal estratégia. Oferecer algo em troca e incentivá-las a criarem grandes campanhas de cashback e na lógica de compre um e leve dois”, diz.

Soluções financeiras

Na visão de Yamashita, a oferta de serviços financeiros ainda é muito limitada para o mercado de cashbacks. Desde 2019, a Méliuz oferece um cartão de crédito sem anuidade que devolve até 1,8% das compras, fruto da parceria entre Mastercard e Banco Pan. Os pedidos pelo cartão se multiplicaram por 26 no quarto trimestre de 2020. As solicitações realizadas apenas no quarto trimestre representaram 47% do total de cartões solicitados desde o lançamento, em 2019.

Ao olhar para os clientes e suas necessidades específicas, a Méliuz tem chances de se posicionar além de marketplace financeiro. “Eles podem atuar em outros setores, outros segmentos de mercado. Basta continuar a conhecer o seu cliente. Assim, você pode vender o que você quiser a ele”, analisa o especialista sobre a oferta de novos produtos.

Fim da euforia?

A Méliuz foi a primeira a puxar uma fila de empresas de tecnologia a estrearem suas ações na Bolsa. Por um tempo, a euforia com a inovação e o baixo preço dos papéis fizeram o desempenho da Méliuz disparar na B3. O mesmo foi percebido em empresas como a Mosaico e Locaweb.

A alegria das novatas é agora, contudo, colocada em xeque diante de uma queda colossal no mês de março. Depois de alta histórica em fevereiro, Locaweb, Méliuz, Enjoei e Mosaico, que juntas somavam 34 bilhões de reais, agora somam em apenas 18 bilhões de reais, um tombo de 47% num curto espaço de tempo.

Enrico Trotta, analista de tecnologia e Equity Research do Itaú BBA, diz que o que acontece agora com a bolsa é uma estratégia de investidores e fundos de investimento para se manterem alocados em empresas de valor garantido, mais estabilidade e menor dependência do crescimento no longo prazo.

A tríade é justamente o que sustenta a existência das empresas de tecnologia, conhecidas pelo alto potencial de crescimento e ritmo acelerado de expansão.

Contudo, os fundamentos básicos não mudaram para as empresas de tecnologia. “Continuamos vendo essas empresas com bons olhos, mas com um cenário incerto como o do Brasil, com aumento da taxa de juros no longo prazo, as empresas com crescimento acelerado são as mais impactadas”, diz.

A transição para uma escolha de empresas de crescimento para empresas de valor é um reflexo conservador diante de um cenário político e fiscal incerto, mas não deve apagar a chama das empresas de tecnologia, tampouco desestimular as startups que seguem na fila para um IPO na Bolsa.

“Vamos continuar vendo IPOs de tecnologia, mas os fundos estão mais seletivos”. A cautela irá ainda permear a escolha dos papéis no curto e médio prazo, mas a seletividade continuará dependendo da estabilidade do cenário atual. “A euforia deve voltar, mas a estabilidade ainda fala mais alto”.

Para Méliuz, a expectativa é de um trimestre de bons números, segundo Trotta. “As demonstrações financeiras não devem vir com grandes surpresas. O viés ainda é positivo”, diz.

Fonte: Exame

Pr. Flávio Nunes

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