Butantan cria vacina brasileira contra covid-19 e pede autorização da Anvisa para testes

by @prflavionunes

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“Uma vacina 100% brasileira”. É como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), apresentou a ButanVac, o primeiro imunizante contra a covid-19 produzido no país. A vacina contra o novo coronavírus foi desenvolvida pelo Instituto Butantan, que pediu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a autorização para iniciar as fases 1 e 2 de testes, em que serão avaliadas segurança e capacidade de promover resposta imune com 1.800 voluntários. Depois, na fase 3, ela será aplicada em até 9.000 voluntários para se estipular a eficácia. A vacina, segundo o Instituto Butantan, já apresentou nos estudos pré-clínicos (feitos em animais) uma resposta imune alta, o que pode indicar que será necessária apenas uma dose para a imunização completa em humanos, uma vantagem que apenas um imunizante, feito pela Johnson & Johnson, tem. A expectativa é que caso os testes se mostrem favoráveis, ela já esteja disponível para a população no final do primeiro semestre deste ano.

Segundo o presidente do Butantan, Dimas Covas, o imunizante começou a ser desenvolvido em 2020. A vacina brasileira contra covid-19 foi enviada à Índia para ser testada em animais e, segundo ele, teve resultados “excelentes”. “De lá para cá, foi uma luta intensa, um esforço intenso de toda a equipe, tanto do ponto de vista da produção quanto das negociações internacionais”, afirmou. O Butantan é o principal produtor da ButanVac, com 85% da capacidade de fornecimento da vacina, em um consórcio internacional que inclui outros dois laboratórios, um do Vietnã e outro da Tailândia, onde a fase 1 já foi iniciada. A ideia é que a vacina seja fornecida não apenas para o Brasil, mas também para outros países de rendas baixa e média, que têm tido mais dificuldades para comprar as vacinas atualmente disponíveis.

Dimas Covas afirmou que pretende enviar um dossiê de desenvolvimento clínico ainda nesta sexta-feira Anvisa para pedir autorização para as próximas etapas dos estudos. A vacina deve começar a ser produzida já em maio e o plano é disponibilizar 40 milhões de doses até julho, informou o Instituto Butantan.

A tecnologia da ButanVac é a mesma usada na produção da vacina da gripe, que já é feita no instituto, produzida em ovos de galinha. Ainda de acordo com Dimas Covas, nenhum outro imunizante contra a covid-19 no mundo utiliza essa tecnologia. Com isso, explica o diretor do Butantan, ela se torna mais barata e segura. “Essa é a geração 2.0 da vacina. Nós aprendemos com as vacinas anteriores e agora sabemos o que é uma boa vacina para a covid-19. Essa já incorpora algumas dessas modificações.” Como a Butanvac utiliza uma tecnologia já usada amplamente no próprio instituto, Covas acredita que isso será um fator a mais para acelerar o desenvolvimento do imunizante. As vacinas contra a covid-19 que foram desenvolvidas com mais celeridade no mundo demoraram menos de seis meses para completar suas fases 1 e 2. “Mas elas eram totalmente novas”, afirmou Covas.

A tecnologia do imunizante utiliza o vírus inativado de uma gripe aviária, chamada doença de Newcastle, que contém a proteína S (Spike) do coronavírus de forma integral. Ao ser inserida no corpo, esta proteína estimula a resposta imune à covid-19. Esse vírus da gripe aviária não causa sintomas em seres humanos, sendo uma alternativa muito segura, segundo o Butantan. De acordo com Covas, a ButanVac já utilizará a proteína S da variante do Amazonas do coronavírus, a P.1, mais transmissível e possivelmente mais letal.

Caso os testes da ButanVac comprovem a eficácia e a nova vacina seja autorizada, ela será um importante complemento para o país, que atualmente sofre com a escassez de imunizantes por falta de organização do Governo federal. E se torna um novo trunfo político para o governador João Doria (PSDB), que fez questão de estar presente na manhã desta sexta-feira na coletiva de imprensa que anunciou o imunizante.

O Instituto Butantan, ligado ao Governo de São Paulo, já produz com o laboratório chinês Sinovac a vacina Coronavac, responsável pela maior parte da vacinação realizada atualmente no Brasil e desprezada inicialmente pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), desafeto político do tucano.

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