Como Bill e Melinda Gates administram a fortuna obtida com a Microsoft

by @prflavionunes

Bill Gates, cofundador da Microsoft, voltou às manchetes na última semana porque perdeu o posto de segundo homem mais rico do mundo. Na corrida de bilionários, a medalha de ouro é de Jeff Bezos, da Amazon, e a de prata passou para Elon Musk, da Tesla, segundo o ranking da agência Bloomberg. O terceiro lugar, no entanto, não é nada mal: Gates tem atualmente um patrimônio de 129 bilhões de dólares, obtidos com o sucesso da empresa de tecnologia que ajudou a construir.

Gates fundou a Microsoft em 1975, aos 19 anos, ao lado de Paul Allen. A companhia cresceu e se tornou uma gigante multibilionária do universo de software, responsável por ferramentas icônicas como o sistema operacional Windows, a linha de aplicativos Office e o navegador Internet Explorer. A ascensão da Microsoft impulsionou a fortuna de Gates, que na década de 1990 já era um dos homens mais ricos do mundo. No ranking de bilionários da Forbes, criado em 1987, ele ocupou a primeira posição 17 vezes — hoje é o quarto colocado, atrás, respectivamente, de Bezos, Bernard Arnault, da LVMH, e Musk.

O patrimônio astronômico permitiu que o empresário tivesse luxos próprios de um rei, como manter uma coleção de carros, um jato particular, e adquirir um manuscrito original de Leonardo da Vinci. Entre as extravagâncias, uma sala de trampolim dentro de sua mansão em Washington. Ainda assim, a riqueza parece não diminuir. O montante de dinheiro acumulado por Gates é tão gigantesco que ele poderia gastar 1 milhão de dólares por dia e, ainda assim, demoraria 353 anos para ficar sem nada.

O magnata se tornou um homem com tanto dinheiro que seu emprego atual consiste basicamente em organizar a melhor forma de gastar a fortuna. Em março deste ano, o bilionário deixou o conselho de administração da Microsoft, cortando seu último vínculo com a empresa — ele já havia deixado a presidência da companhia em 2008. O motivo? Se dedicar integralmente à filantropia. Ao lado da esposa, Melinda, ele criou, há duas décadas, a Fundação Bill e Melinda Gates, a maior organização filantrópica do mundo.

Em suas famosas cartas anuais no blog “Gates Notes”, Bill e Melinda argumentaram que a decisão de doar o próprio dinheiro veio do entendimento de que a filantropia é uma ação significativa e necessária. “Não é justo termos tanta riqueza enquanto bilhões de outras pessoas têm tão pouco”, afirmou Melinda na carta de 2018. Por isso mesmo, a maior parte dos fundos da fundação vêm da fortuna obtida com a Microsoft — o casal já doou 53,8 bilhões de reais para a instituição desde 2000.

Para este ano, a fundação dispõe de 49,8 bilhões de dólares em seus cofres para estimular a equidade globalmente. Isso é feito através do investimento em duas frentes, uma nos Estados Unidos e outra em países em desenvolvimento. Dentro de casa, as falhas no sistema educacional norte-americano são o foco. No exterior, as áreas de atuação são pobreza extrema e questões de saúde. Houve também um esforço direcional em 2020 contra a pandemia de covid-19, em que foram doados 350 milhões de dólares.

O casal acredita que a escolha de um foco de atuação para as doações permite que o trabalho tenha um impacto maior. “Usamos nossos recursos de uma maneira muito específica: para testar inovações promissoras, coletar e analisar os dados e permitir que empresas e governos aumentem e sustentem o que funciona. Somos como uma incubadora nesse sentido. Nosso objetivo é melhorar a qualidade das ideias que vão para as políticas públicas e direcionar o financiamento para as que têm mais impacto”, disse Bill em uma das cartas.

Além dos recursos próprios do casal, a organização filantrópica também conta com o incremento de doações particulares. O mais ilustre doador é o megainvestidor Warren Buffet, dono da Berkshire Hathaway e um dos amigos mais próximos dos Gates. Buffet ocupa ele próprio a cadeira de sexto maior bilionário do globo no ranking da Bloomberg e, assim como Bill e Melinda, também acredita no potencial da filantropia.

Juntos, os três criaram, em 2010, a iniciativa “Giving Pledge” (“promessa de doação”, em tradução livre). O movimento une, sob o mesmo compromisso, 211 filantropos que se comprometeram a doar ao menos metade de sua riqueza para a filantropia ou causas de caridade, seja durante a vida ou em testamento. Buffet foi mais ousado e registrou compromisso de doar ao menos 99% de seu patrimônio de 87,2 bilhões de dólares sob esses mesmos termos.

Passada uma década, uma das principais críticas à iniciativa é a falta de diretrizes claras sobre o destino das doações, o que prejudica a análise do impacto real dessas atividades de filantropia. Além disso, os participantes não têm nenhuma obrigação legal de efetivamente doar o que foi combinado e não existe um prazo para que a doação aconteça (além do tempo de vida de cada signatário).

Ao mesmo tempo, a classe dos bilionários é cada vez mais questionada nos Estados Unidos — país natal de oito entre os dez homens mais ricos do mundo. O conflito ronda a quantidade de impostos cobrados dos ultra ricos, que seria insuficiente para contribuir com a sociedade. Em 2018, por exemplo, eles pagaram menos em impostos efetivos do que a classe trabalhadora, segundo o jornal The Washington Post. A crítica argumenta que parte do patrimônio dessas pessoas poderia ser revertida para a sociedade através dos cofres públicos, uma forma mais rápida (e talvez mais eficaz) do que a própria filantropia.

Bill Gates falou sobre o assunto em outra de suas cartas. O bilionário assumiu que ele, a esposa e todos os demais endinheirados do país deveriam pagar mais ao governo americano. Gates escreveu, inclusive, uma lista de mudanças que poderiam ser implementadas para fazer cobranças mais assertivas aos bilionários. Enquanto isso não acontece, o casal segue com o projeto próprio de transformar sua fortuna em doações. Seguindo o compromisso firmado no Giving Pledge, ao menos metade do patrimônio (64,5 bilhões de dólares) será destinado à filantropia ao longo dos próximos anos.

Fonte: Exame

Pr. Flávio Nunes

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