Protestantismo Presbiteriano – Conselho Inter Presbiteriano (CIP)

by @prflavionunes

O
protestantismo presbiteriano foi implantado no Brasil a partir do final dos
oitocentos através de duas Juntas Missionárias americanas: Presbiterian Church
of United States (PCUS – Igreja do Sul) e a Presbiterian Church of United
States of the America (PCUSA – Igreja do Norte). Mas apenas nas proximidades de
seu Centenário a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) passou a ter de fato
plena autonomia, quando houve uma mudança profunda nas relações da IPB com as
Juntas Missionárias americanas, com a formação e instalação do Conselho Inter
Presbiteriano (CIP).

Um
dos personagens mais atuantes na elaboração e efetivação da CIP foi sem duvida
alguma o Rev. José Borges dos Santos Jr que revela toda sua dedicação e zelo
pelo bem estar da denominação e a determinação em torná-la cada vez mais forte
e atuante no país.

O
Conselho Inter Presbiteriano (CIP) nasce após a Conferência Interpresbiteriana
que ocorreu no inicio de 1954, realizado em Campinas, onde representantes das
duas Juntas Missionárias americanas que atuavam no país desde os primórdios os
de Nova York (PCUSA) e os de Nashiville (PCUS) e as lideranças da IPB,
redefiniram os termos das parcerias que até então estavam sendo regidas pelo
―Modus Operandi‖ estabelecido nos idos de 1917:

A “Comissão
Modus Operandi”, em 1917, separou os campos missionários, mas não tinha força
nenhuma sobre eles, senão diplomática. Para evitar a célebre “questão
missionária”, de modo pacífico, embora, alheou-os (FERREIRA, v.2, 1992, p.
430). A divisão dos trabalhos se faria preliminarmente por uma separação entre
campos missionários economicamente ainda não auto-suficientes, e que assim
ficariam a cargo das organizações americanas e seus agentes, e de outro lado,
comunidades capazes de por si mesmas proverem às necessidades de seu
desenvolvimento e dependentes da Igreja Presbiteriana brasileiras (LÉONARD,
1963, p. 162ss). Para Leonard, o que foi celebrado como um avanço, pelas
lideranças nacionais, na verdade na pratica tornou-se um retrocesso, pois
muitos campos missionários “nacionalizados” ficaram a míngua, sem recursos e
sem obreiros suficientes e assim encolheram. Esta situação somente mudara com a
instituição do CIP e da atuação incansável de Borges.

Após
esta Conferência a relação entre as partes passou a ser através do Conselho
Inter Presbiteriano (CIP). Se no modelo anterior a IPB não tinha voz, este novo
modelo de cooperação proporciona uma participação mais efetiva junto às juntas
missionárias, de maneira que todas as questões devem ser discutidas e aprovadas
em conjunto. Foram representantes no CIP neste momento inicial (1955) os Revs.
José Borges dos Santos Júnior, Dr. Benjamin Moraes, Amantino Adorno Vassão,
Natanael Cortez, Dr. Diniz Prado de Azambuja Neto, Prof. Basílio Catalã Castro,
Uriel de Almeida Leitão, Américo J. Ribeiro, Adauto Araújo dourado, Daniel das
Chagas e Silva, Boanerges Ribeiro e o Pb. Heitor Gomes de Paiva.

Tendo
acabado de ser eleito Presidente do SC (1954) e possuindo conhecimento profundo
sobre as questões relacionadas às Missões e a IPB e tendo alcançado forte
prestígio junto às missões americanas, o Rev. Borges assume a liderança desta
primeira reunião da CIP, e é eleito seu primeiro Presidente, conforme suas
próprias palavras: “[…] e compareci à primeira reunião do Conselho Inter Presbiteriano,
tendo sido eleito presidente”
(RELATORIO PASTORAL, 1955) e desta forma
consolida sua influência tanto na esfera nacional quanto internacional. Esta
primeira reunião do CIP ocorre em 29 de janeiro de 1955, na cidade do Rio de
Janeiro, e Ferreira nomeia todos os participantes das Juntas e da IPB e suas
funções representantes (v.2, 1992, p. 429), que foram além dos que menciono
aqui.

Em
seus Relatórios Pastorais de 1955 a 1964 (que marca sua saída da CE/IPB) é
evidente o quanto se empenhou para que os projetos missionários coordenados
pela CIP alcançassem resultados positivos. As reuniões e viagens se multiplicam
por todo o território brasileiro e no exterior; em 1955 visita os campos
missionários do Norte de Minas, Vale do São Francisco, Bahia Goiás, Mato Grosso
e Santa Catarina, num total de 40 cidades diferentes; em 1961 faz parte da
recém-criada Comissão de Educação do SIP. Viaja aos Estados Unidos algumas
vezes para participar de reuniões com as Juntas Missionárias, sempre no
sentindo de manter a continuidade da cooperação e financiamentos dos projetos
desenvolvidos no Brasil através da IPB.

Se
não fosse a atuação contundente e o respeito que adquiriu junto aos americanos,
as Juntas teriam deixado os campos brasileiros, pois há muito tempo, desde a
predominância das teses ecumênicas, na América, elas questionavam a necessidade
de se permanecer em campos já cristianizados, o que para a PCUSA, por exemplo,
incluía não apenas protestantes, mas católicos também. Ainda em 1956,
participando da Conferência Missionária Mundial de Lake Mohonk, Borges começa a
mudar a ênfase centenária de evangelismo de católicos para a indígena, ainda
que como Castro expressa, não pode se afirma categoricamente, mas tudo indica
que ele o faz com o propósito de manter os investimentos da missão nortista no
Brasil.(2011, p. 87) Ele mesmo manteve apoio continuo ao trabalho missionário e
evangelístico desenvolvido pela Missão Caiua e que continua atuando até hoje
junto às tribos indígenas da região do Mato Grosso, Dourados, onde mantém
Igreja, Escola e Hospital.

Entre
tantos resultados alcançados por Borges junto ao CIP, certamente destaca-se a
implantação de uma Igreja Presbiteriana na recém-inaugurada cidade de Brasília,
a nova capital do Brasil.[1] A
construção do novo templo presbiteriano despendeu todo o empenho e determinação
dele: consegue um obreiro sustentado pelas Missões Oeste e Central, faz uma
campanha financeira junto às igrejas, onde a Igreja Presbiteriana Unida de São
Paulo (IPUSP) destaca-se na contribuição, consegue financiamento junto a
Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil no valor de Cr$300.000,00
cruzeiros; apoiado pela Junta de New York consegue dois terrenos próximos ao
centro (quadra comercial 307, num total de 70m²) e consegue autorização do SC
para buscar recursos financeiros no exterior para a construção imediata do Templo,
conforme Digesto:

Quanto
ao Doc. 138, […] c) relativamente a área doada, também de 15.000 m2,
considerando que toda a demora para entrar na posse dessa área é prejudicial,
dar os passos necessários para se obter os recursos para o início da construção
da Catedral de Brasília, aprovando-se a sugestão da presidência no sentido da
IPB recorrer às Igrejas Presbiterianas dos Estados Unidos e da Europa,
solicitando uma oferta especial para a construção do aludido templo, na capital
de nosso país. (SC-62-054)

Ele
consegue junto ao Dr. Niemeyer, arquiteto responsável pelo projeto de Brasília,
a elaboração gratuita da planta do primeiro templo, consegue também uma área de
60.000 m2 para a construção que pudesse abrigar o Instituto Presbiteriano para
Leigos[2] e
outras organizações tanto da IPB quanto das Juntas Missionárias que ali
desejassem desenvolver suas atividades (DIGESTO, CE-57-088 e SC-58-216, edição
online).

O
resultado de todo este esforço se concretiza em 1960, quando com grande comoção
do presbiterianismo nacional se procede a organização da Igreja Pioneira no dia
21 de abril, quando da inauguração de Brasília e a organização da Igreja
Presbiteriana Nacional no dia 12 de agosto, quando do aniversário de 101 anos
da IPB.

Utilização livre desde que
citando a fonte

Guedes, Ivan Pereira

Mestre em Ciências da
Religião.

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Referências Bibliográficas

CASTRO,
Luís Alberto de.
A Trajetória do “Velho
Mestre: Uma Biografia do Rev. José Borges dos Santos Júnior – um recorte
historiográfico da Igreja Presbiteriana do Brasil.
Dissertação (Mestre em
Divindade) – Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, São Paulo,
2011.

FERREIRA,
Júlio Andrade. História da Igreja
Presbiteriana do Brasil
, vol. 2. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992.

GUEDES,
Ivan Pereira. O Protestantismo na
Capital de São Paulo – A Igreja Presbiteriana Jardim das Oliveiras.
Dissertação
apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à
obtenção do grau de Mestre em Ciências da Religião. Orientador: Prof. Dr. João
Baptista Borges Pereira

LÉONARD,
Émile G. O protestantismo brasileiro:
estudo de eclesiologia e história social.
1ª Edição, Rio de Janeiro e São Paulo: JERP/ASTE, 1963.

DIGESTO PRESBITERIANO
(1951-1960),

edição online, Disponível em: http://www.ipb.org.br/download/arquivos/digesto_ipb_1951-1960.pdf.
Acesso em 14/05/2013.

 


[1] Borges produz dois Relatórios
relacionados à implantação do trabalho presbiteriano e a construção do templo
em Brasília, que Castro coloca na integra em seus anexos (2011, Anexos ns° 7 e
8).

[2] A proposta esboçada na resolução do
SC-58-216 se tivesse sido colocada em prática revolucionária os métodos e
práxis evangelísticas da IPB. Destaco apenas um item da proposta para o
Instituto: ―c) Promover encontros entre presbiterianos, bem como irmãos de
outras Igrejas evangélicas, que exerçam funções na vida pública; que sejam
cientistas; educadores; escritores; jornalistas; líderes sindicais e operários;
homens de negócios; capitães da indústria; ou de qualquer outro modo
conhecedores da vida nacional. O objeto desses encontros será estudar as bases
de nossa cultura, e particularmente a influência das religiões não evangélicas
em nossa formação nacional, juntamente com a mensagem bíblico adequada à nossa
vida e época;‖ (edição online).

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