Trump ou Biden? Um guia rápido para entender a corrida eleitoral nos EUA em 10 pontos-chave

by @prflavionunes

Há semanas se ouvem os dois lados do espectro político nos Estados Unidos dizerem que a eleição desta terça-feira é “a mais importante das nossas vidas”. Os quatro anos de Donald Trump na presidência e seu caráter incendiário deixaram um país extremamente polarizado, a tal ponto que este pleito é interpretado como um referendo sobre seu mandato.

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Após um longo ciclo eleitoral, que incluiu as primárias do Partido Democrata que levaram à indicação de Joe Biden como candidato, e de uma campanha muito atípica, marcada por uma pandemia que já matou mais de 230.000 norte-americanos, termina nesta terça-feira o processo eleitoral que decide quem será o ocupante da Casa Branca pelos próximos quatro anos.

🗳️ A seguir, apresentamos um guia com 10 pontos-chave para acompanhar a jornada eleitoral:

1. Os candidatos

O presidente Donald Trump (74 anos). O candidato republicano, que busca revalidar seu mandato para permanecer por mais quatro anos na Casa Branca, dispensa muitas apresentações. Esse apresentador de reality shows, filho de um bilionário incorporador imobiliário nova-iorquino, não foi levado a sério por ninguém quando lançou sua candidatura atacando os mexicanos, em junho de 2015. Mas conseguiu chegar ao poder apelando à insatisfação da classe trabalhadora e com um discurso contra a imigração e a globalização. Esta reportagem repassa seus quatro anos de presidência, salpicados por caos, negacionismo, corrupção e obsessão pelos holofotes.

Ao contrário do atual presidente, que se lançou na política com todo sucesso há apenas cinco anos, o candidato democrata, Joe Biden (77) transita há quase meio século por Washington. Sua vida foi marcada por tragédias pessoais que lhe forjaram um caráter empático e dialogante, apontado por seus seguidores como um dos seus principais atributos. No texto Biden, o bombeiro da América, Amanda Mars perfila o vice-presidente de Barack Obama, um moderado em um partido imerso em uma guinada à esquerda.

2. O sistema

Em 2016, mais norte-americanos marcaram o nome de Hillary Clinton que o de Donald Trump em suas cédulas. A democrata teve quase três milhões de votos a mais, porém o republicano chegou à Casa Branca porque ganhou no Colégio Eleitoral. Isso ocorre porque nos Estados Unidos a eleição é indireta, e para chegar à presidência um candidato deve somar pelo menos 270 votos eleitorais.

Este infográfico de Artur Galocha e Patricia R. Blanco explica como funciona o sistema de Colégio Eleitoral e como é eleito o presidente. E esta reportagem de Jorge Galindo explica as consequências desse sistema.

3. Os Estados-pêndulo

Cada Estado dos EUA tem um número de votos eleitorais. A Califórnia, com 55 votos, e o Texas, com 38, são os que têm mais peso, mas não é necessariamente neles que as campanhas gastam mais recursos e energia.

Na reta final da corrida para a Casa Branca, os candidatos se voltam para os chamados Estados-pêndulos (swing states), onde a vitória não está assegurada nem para os republicanos nem para os democratas. Na campanha de 2020, estamos de olho especialmente em:

🏭 Pensilvânia, Wisconsin e Michigan. Em 2016, Clinton patinou em alguns condados do cinturão industrial norte-americano que lhe custaram caro e inclinaram a balança a favor de Donald Trump, com margens que não chegavam a um ponto percentual.

🌴 A Flórida é o Estado-pêndulo mais cobiçado, pelos 29 votos eleitorais que deposita na balança eleitoral. Em 2016, Trump ganhou de Hillary Clinton por um ponto percentual (113.000 votos), e neste ano as duas campanhas estão apostando em conquistar a sua diversificada população.

🏜️ No Arizona (11 votos eleitorais), a rejeição a Trump pôs o Estado ao alcance da mão dos democratas.

🌽 Com apenas seis votos eleitorais, Iowa é outro Estado que costuma oscilar de um partido para outro. Obama ganhou por lá em 2008 e 2012, mas Trump o arrebatou dos democratas.

🧭 Ohio (18 votos eleitorais) foi durante anos uma espécie de bússola eleitoral do país. Desde 1964, quem se impõe nesse Estado vence no conjunto dos EUA.

✊🏿✊🏾 O eleitorado afro-americano, esmagadoramente democrata e mobilizado depois de uma temporada de protestos raciais, pode mudar o signo político da Carolina do Norte, com seus 15 votos eleitorais, e nas últimas semanas se fala inclusive da Geórgia, com 16.

⭐ A surpresa do Texas? A alta participação neste ciclo eleitoral fez os democratas sonharem em ganhar neste Estado, tradicional feudo dos republicanos, que no entanto viram sua hegemonia ameaçada nas legislativas de 2018.

4. O eleitorado-chave

Os Estados Unidos são o paraíso das pesquisas eleitorais. Há relatórios minuciosos sobre as preferências e tendências de voto atuais e históricas, e a cada quatro anos surgem todo tipo de análises sobre quais grupos demográficos podem definir uma eleição. Neste ano, quem pode inclinar a balança para Donald Trump ou Joe Biden são os homens brancos sem estudos universitários, as mulheres dos subúrbios e os latinos e afro-americanos dos Estados-pêndulos.

5. O voto antecipado

Esta terça-feira é o dia oficial da votação nos Estados Unidos, pondo fim ao ciclo eleitoral, mas faz semanas que vemos longas filas de gente votando antecipadamente no país inteiro, quebrando todos os recordes de participação prévia ao dia marcada. Numa eleição realizada em meio a uma pandemia, quase 100 milhões de cidadãos já depositaram suas cédulas pessoalmente ou pelo correio, uma cifra que representa mais de 70% de todos os votos emitidos quatro anos atrás, faltando ainda todos os que serão depositados neste 3 de novembro.

6. O que está em jogo

Numa eleição vista como um plebiscito sobre a presidência de Donald Trump, muitos eleitores foram às urnas fazendo um balanço de quatro anos frenéticos em que o republicano virou de ponta-cabeça a tradição multilateral dos Estados Unidos e consolidou a desigualdade na maior economia global —a qual, após alguns primeiros anos de bonança, sofreu um estancamento e depois a pior queda em décadas por causa da pandemia. Correspondentes do EL PAÍS analisam neste artigo suas políticas de imigração, economia, meio ambiente e relações internacionais.

7. As pesquisas

Segundo as pesquisas publicadas até agora, o candidato democrata, Joe Biden, é o favorito e tem uma vantagem sobre o republicano Donald Trump maior do que Hillary Clinton apresentava em 2016. Mas isto não significa que o presidente não possa ganhar: ainda conserva uma chance em seis de vencer.

Neste artigo, p colunista Kiko Llaneras e nosso especialista em dados Jorge Galindo expõem seis cenários possíveis em função de quem vença nos Estados-chaves.

8. Horários

Os primeiros centros de votação nos Estados da Costa Leste abrem entre as 6h e as 7h (8h ou 9h em Brasília) e fecham entre as 18h e as 19h.

O horário de abertura e fechamento das urnas nos 50 Estados e no Distrito de Columbia é escalonado por se estenderem através de seis fusos, e alguns centros eleitorais ficarão abertos até as 21h locais. Os últimos territórios a fecharem serão Alasca e Havaí (quando já será 0h na Costa Leste, ou 2h de quarta-feira em Brasília). Nesta página você pode consultar o horário detalhado de abertura e fechamento por Estado.

9. Quando começa a apuração?

A apuração começa imediatamente após o fechamento das urnas, e os primeiros resultados não devem demorar a ser divulgados. Entretanto, cada Estado tem um sistema de apuração, e dele dependerá a demora em concluir a totalização dos votos.

Na noite eleitoral estaremos muitos dependentes de Estados-chaves como a Flórida, cujo resultado poderia ser anunciado poucas horas depois do fechamento das urnas (às 19h, hora local), porque as autoridades eleitorais estão acostumadas a lidar com o voto pelos correios e podem começar a processá-lo antes da jornada oficial de votação. Entretanto, há outros Estados, como a Pensilvânia, onde se prevê um atraso maior para a apuração das cédulas que chegarem por via postal. Acompanhe a apuração neste link.

10. Quando sairão os resultados definitivos?

Em um ano com recorde de participação antecipada, tanto pessoalmente como pelo correio, os resultados definitivos poderem demorar a serem anunciados, especialmente se houver uma margem estreita separando a votação dos dois candidatos.

Há quatro anos, Clinton reconheceu sua derrota por volta das 2h30 da madrugada (hora da Costa Leste), uma hora depois de as redes de TV e agências de notícias apontarem Trump como vencedor, com base nos resultados preliminares dos Estados. É provável que a apuração deste ano se prolongue mais, pelo aumento do número de votos. Mas ninguém sabe quanto a mais.

A imprensa norte-americana já avisou que pretende ter mais cautela ao projetar ganhadores, porque é possível que os primeiros resultados não ofereçam uma imagem completa da situação. À medida que os votos postais forem incluídos, o mapa deveria favorecer os democratas, que tendem a votar mais de maneira antecipada, enquanto os republicanos preferem em geral fazê-lo no dia oficial das eleições.

Mas não se descarta que os norte-americanos tenham que ir dormir nesta terça sem saber quem ganhou. E a incerteza, como antecipa Amanda Mars neste artigo, é material explosivo em um país tão crispado e com um presidente que, sem base alguma, agita o fantasma da fraude.

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