Trump sinaliza que indicará uma mulher para a Suprema Corte e busca nome conservador

by @prflavionunes

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou somente 24 horas depois da morte da magistrada Ruth Bader Ginsburg que na semana que vem irá propor um novo nome à Suprema Corte do país e que apostará por “uma mulher”. O fez durante um comício diante de seus seguidores na Carolina do Norte, apoiado por bases eleitorais que veem a possibilidade de escorar o último dique judicial do país à direita durante décadas. O anúncio de Trump é o primeiro movimento das peças em uma batalha fenomenal que será disputada nos 45 dias que restam para eleições que, já antes dessa situação, os dois partido viam como existenciais.

A postura de Trump no dia anterior, quando elogiou a juíza Ginsburg, com semblante tristonho e em termos respeitosos, durou exatamente um dia. Na manhã de sábado, afastou qualquer dúvida sobre suas intenções ao pedir pelo Twitter aos republicanos do Senado que iniciem “sem demora” o processo de substituição da magistrada progressista por um magistrado conservador. Ele precisa dar o primeiro passo. E de tarde, em um comício de campanha, anunciou que esse nome será divulgado na próxima semana. Seus seguidores o receberam aos gritos de: “Fill that seat!” (preencha essa vaga!). A campanha de Trump começou a vender camisas com esse bordão.

Trump já vinha jogando com o trunfo de uma nova nomeação ao Supremo para animar o eleitor republicano nessas eleições. Em 9 de novembro, apresentou uma lista com 20 candidatos entre os quais estaria sua escolha no caso de conseguir a reeleição. Ao anunciar que será uma mulher, essa lista fica significativamente reduzida. As especulações se centravam em Amy Coney Barrett, uma juíza conservadora de 48 anos que atualmente trabalha em um tribunal de apelações, cargo para o qual foi nomeada por Trump. Barrett escreveu contra o aborto tal como está legalizado atualmente no país.

A política dos Estados Unidos vive submersa em um turbilhão de hipóteses, especulações e interpretações desde a tarde de sexta-feira. O nome da candidata é somente uma delas. De repente, uma eleição que era sobre o repúdio a Trump passa a ser também sobre o futuro da Suprema Corte. Tudo faz parte do cálculo eleitoral. Na prática, o processo está nas mãos de poucas pessoas. O primeiro é Trump, e já deixou claro que irá cumprir sua parte.

O segundo, mas mais importante do que o primeiro, é Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado, o órgão que deve confirmar a indicação. Dele depende que se vote ou não a candidata de Trump antes das eleições, ou depois, ou nunca. Em sua primeira reação à morte de Ginsburg, McConnell já dissipou as dúvidas nesse sentido e disse que o Senado “votará o indicado do presidente Trump”. Mas não disse quando.

McConnell tem em suas mãos as decisões que podem permitir aos republicanos tirar o maior proveito eleitoral possível da indicação ao Supremo. Ele foi o autor da inaudita manobra parlamentar pela qual os republicanos se negaram a votar o homem proposto por Barack Obama em 2016. Deixou a vaga aberta durante 10 meses com o argumento de que era ano eleitoral e os eleitores deveriam se pronunciar. Essa estratégia foi fundamental para unificar o voto conservador ao redor de um candidato como Trump, somente pela esperança de poder nomear um magistrado conservador no Supremo. Já conseguiram dois e tentarão o terceiro. O novo cálculo eleitoral de McConnell e dos republicanos será conhecido nos próximos dias. Uma confirmação apressada pode aumentar a sensação de atropelo e aumentar ainda mais a mobilização democrata.

Depois de McConnell e Trump, estão os senadores republicanos que devem votar a confirmação da nomeação. Os republicanos têm maioria de 53 senadores contra 47. A nomeação deve vir por maioria simples. A oposição de quatro senadores republicanos faria a votação fracassar. Por isso, da mesma forma que todos os EUA seguem o Twitter de McConnell, também o fazem com alguns senadores fundamentais, especialmente os que disputarão a reeleição em 3 de novembro.

Entre eles, a senadora Susan Collins, do Maine, anunciou no sábado sua posição: se deve votar o candidato proposto pelo candidato que sair das urnas em 3 de novembro. Ou seja, não votaria pela candidata de Trump. Collins é considerada moderada e seu cargo está em perigo. Lisa Murkowski, republicana pelo Alasca e também moderada, disse em uma entrevista horas antes da notícia da morte de Ginsburg que se oporia a uma confirmação tão próxima das eleições. O senador Chuck Grassley, de Iowa, também disse recentemente que se oporia. Mas esses dois não se pronunciam desde sexta-feira.

Há 23 senadores republicanos com a cadeira em jogo nas eleições, entre eles McConnell e o presidente do Comitê de Justiça, Lindsey Graham, que seria o encarregado de organizar a sabatina da candidata. Desde sexta-feira, todas as suas disputas eleitorais dependem de sua posição sobre votar ou não a proposta de Trump, do efeito que isso terá em seus eleitores e o efeito que terá nos democratas.

O último ator nesse furacão político é o partido democrata. Na prática, pouco podem fazer se o procedimento seguir adiante. Se Trump, McConnell e os republicanos decidirem cobrir a vaga, só podem protestar. Mesmo vencendo as eleições para presidente e recuperando a maioria no Senado, até janeiro não tomariam posse, de modo que também não poderiam se opor. O que de fato podem fazer, como os republicanos, é utilizar ao máximo a situação criada para mobilizar o voto. “O que está no voto é o Supremo Tribunal”, tuitou Biden no sábado. “O resultado impactará tudo, da saúde aos direitos civis, e afetará as gerações futuras”. A morte de Ginsburg foi uma crua lembrança do que está em jogo.

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