Fuga de eleitores e planos de cisão: o dramático final de Trump abre uma fissura no Partido Republicano

by @prflavionunes

La senadora republicana Susan Collins habla con miembros de la Guardia Nacional, este jueves en el Capitolio.
La senadora republicana Susan Collins habla con miembros de la Guardia Nacional, este jueves en el Capitolio.JIM LO SCALZO / EFE

Mais de 33.000 eleitores registrados como republicanos na Califórnia deixaram o partido nas três semanas seguintes ao ataque do Capitólio. Na Pensilvânia, foram mais de 12.000 deserções no último mês. Arizona, Flórida… o padrão se repete em todos os Estados que divulgaram dados. São números pequenos em escala nacional, mas a tendência preocupa os dirigentes partidários.

As assustadoras imagens do ataque ao Capitólio por parte de seguidores do ex-presidente Donald Trump, que os democratas vêm há três dias exibindo no julgamento do seu impeachment, dificilmente servirão para alterar a postura dos senadores republicanos. Mas talvez o destinatário real dessas imagens não sejam eles, e sim os eleitores conservadores tradicionais, cuja fuga colocaria o Partido Republicano em sérias dificuldades.

Segundo um levantamento do The New York Times, quase 140.000 republicanos deixaram o partido desde 6 de janeiro nos 25 Estados que divulgaram os dados. É o dobro das deserções democratas no mesmo período. Sempre há movimentos nos registros depois das eleições, em alguns casos porque os Estados atualizam as bases de dados e retiram os falecidos ou quem mudou de domicílio. Mas os especialistas concordam que, depois do ataque ao Capitólio, os republicanos sofreram um abandono maior que o habitual.

A tendência preocupa os quadros atuais e antigos do Grand Old Party. E também entre eles se nota o descontentamento. Dezenas de ex-dirigentes, conforme publicou a Reuters na quarta-feira, estão conversando para formalizar uma ruptura e criar um partido de centro-direita. Entre participantes desse debate inicial, segundo essa mesma notícia, haveria ex-altos-funcionários dos Governos Reagan, Bush pai e Bush filho, assim como diplomatas e marqueteiros do partido.

Mais de 120 deles participaram na semana passada de uma teleconferência para debater a cisão. A ideia, sempre segundo a Reuters, é apresentar candidatos próprios em algumas circunscrições e, em outras, apoiar candidatos centristas de qualquer filiação política. Debateu-se sobre formar um partido ou uma corrente, dentro ou fora da formação republicana. E se cogitam os nomes de Partido da Integridade e Partido de Centro-Direita, segundo a Reuters.

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A iniciativa ilustra a que ponto os acontecimentos do final do mandato de Trump aprofundaram a fissura na formação. O trumpismo continua sendo uma força dominante no Partido Republicano. Segundo uma pesquisa da ABC News e The Washington Post feita entre 10 e 13 de janeiro, 69% dos norte-americanos consideram que os republicanos deveriam levar o partido para outra direção. Entre os republicanos, 60% insistem em seguir o rumo determinado por Trump. Esse percentual era de 83% em 2018.

O traumático final do mandato de Trump torna mais difícil a tolerância passiva de seus excessos, o que terminou por alienar uma parte do setor moderado. Os republicanos ampliaram sua presença na Câmara de Representantes depois das eleições de novembro, e entre os novos integrantes entraram perfis em sintonia com as bases mais extremistas do trumpismo. Até 139 membros da Câmara Baixa e oito senadores votaram a favor de bloquear a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden horas antes do ataque ao Capitólio. Mas exatamente uma semana depois da violenta insurreição, 10 congressistas republicanos votaram pelo impeachment de Trump. Não é uma proporção grande entre os 211 deputados do partido, mas é o número mais elevado na história de votos dados por deputados pela destituir um presidente do seu próprio partido.

Na cabeça dos deputados, e também na dos senadores que terão que condenar ou absolver o ex-presidente, há outros cálculos. Neste momento, a força mobilizadora de Trump nas bases republicanas continua sendo grande, por isso a vontade de enfrentá-lo tende a ser proporcional à distância temporal que separa os atuais parlamentares da disputa por um novo mandato.

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