O Motivo Primário Para Escrever as Institutas Cristãs

by @prflavionunes


            Todos os estudiosos do movimento da Reforma Protestante,
ocorrido no século XVI, concordam de que a obra teológica produzida por João
Calvino (Institutas da Religião Cristã)
se
constitui em um dos pilares deste movimento que transformou o Cristianismo a partir
daquele momento histórico.
            No seu prefácio da edição francesa de 1545, Calvino se
preocupa em esclarecer aos seus leitores a razão que o levou a elaborar as
Institutas. No terceiro parágrafo ele faz uma colocação primorosa e fundamental
para uma compreensão correta desta sua obra:
 Vendo,
então, quão necessário era dessa maneira ajudar aqueles que desejam ser instruído na doutrina da salvação, eu me
esforcei, de acordo com a capacidade que Deus me deu de empregar-me ao fazê-lo,
e com essa visão compôs o presente livro.
            Aqui está a grande razão pela qual Calvino investiu tanto
de seu tempo e de sua vida nesta obra – instruir as pessoas, de forma geral, no
que concerne a salvação. Mas o calvinismo não conseguiu entender esta proposta
simples do reformador e transformou sua obra em uma enciclopédia acadêmica
pesada e inacessível para os leitores “meros mortais”. A própria figura de
Calvino tornou-se tão grande e intimidadora que afastou o povo dele e de suas
obras.
            Mas seu objetivo primário era simplesmente tornar
conhecida pelos cristãos a grande e maravilhosa doutrina da salvação:
E
primeiro eu escrevi em latim, para que possa ser útil a todas as pessoas
estudiosas, de que nação seja qual for; depois, desejando comunicar
qualquer fruto que possa estar presente aos meus compatriotas franceses,
traduzi-o para a nossa própria língua.
            O Latim naquele momento era como o inglês nos dias
atuais, de maneira que uma obra escrita ou traduzida para o Latim alcançava grande
parte do mundo e por esta razão abençoou tantas nações. Mas ele não se
contentou com isso e seguindo a linha de Lutero e dos humanistas cristãos, reproduz
sua obra na língua vernácula francesa tornando-a completamente acessível aos
seus contemporâneos em geral. Isso fala muito de sua paixão pela propagação do
evangelho e da mensagem de salvação nele contido.
Não
ouso prestar um testemunho muito forte a seu favor e declaro quão lucrativa
será sua leitura, para que eu não pareça valorizar muito meu próprio trabalho.
            A humildade de Calvino transparece nessa frase prefacial,
ainda que quando da última edição muitos anos depois, ele tenha tido uma noção
do quanto seu trabalhou significou para tantas pessoas e nacionalidades em todo
o mundo. O orgulho e a arrogância são inimigos perniciosos que perseguem todo
líder, mas sem dúvida alguma, àqueles que devem conduzir o rebanho do Senhor
Jesus. Mas continua ele:
Contudo,
posso prometer isso, que será uma espécie de chave que abrirá a todos os filhos
de Deus um acesso correto e pronto à compreensão do volume sagrado.
            Quem dera todo escritor cristão tivesse essa mesma
motivação; conduzir o povo de Deus para compreender cada vez melhor e
corretamente a Bíblia. E Calvino concluiu suas palavras iniciais aos leitores:
Portanto,
se nosso Senhor me der doravante os meios e a oportunidade de compor alguns
Comentários, usarei a maior brevidade possível, pois não haverá ocasião para
fazer longas digressões, visto que deduzi de maneira extensiva todos os artigos
que pertencem ao cristianismo.
Deus
atendeu o desejo de Calvino e ele escreveu comentários sobre quase todos os
livros da Bíblia. Mas segundo ele próprio, a chave para compreender
corretamente seus comentários bíblicos é a leitura antecipada das Institutas. E
aqui está a grande questão daqueles que desejam serem “calvinistas”, mas que
não utilizam a chave mestra para compreender suas obras e pensamentos.
            Portanto, falar de João Calvino sem conhecer, de fato, sua
obra magna é no mínimo incoerência. Infelizmente os brasileiros que advogam
serem “calvinistas” em sua maioria nunca se querem leu ao menos um dos quatro
volumes

desta obra preciosa do querido reformador genebrino – o que nos torna
contraditórios, pois somos “calvinistas” que não leem a obra magna de Calvino. Indico
apenas duas razões para essa lamentável deficiência:
– O
protestantismo presbiteriano (calvinista) desembarcou no Brasil no final dos
Oitocentos (160 anos) e para vergonha nossa essa obra escrita há quatro séculos
somente foi traduzida para o português em sua inteireza a pouco menos de vinte
anos, graças ao esforço do Rev. Waldir Luz de Carvalho, que o fez como trabalho
acadêmico para seu curso de doutorado na UNICAMP, que é uma Instituição de
matriz católica. O vexame não foi maior porque a Editora Presbiteriana encampou
o trabalho do erudito presbiteriano e fez a primeira edição em 2006.

O preço e a
tradução gramatical utilizada pelo Rev. Waldir Luz, visto que era
um trabalho acadêmico, foram dois fatores negativos, de modo que os leitores
leigos não foram alcançados e na verdade, nunca houve essa disposição por parte
das denominações calvinistas estabelecidas no país. Essa atitude elitista
acadêmica tornou a obra de Calvino algo totalmente desconhecido por 90% dos
cristãos calvinistas brasileiros. O que foge em muito da proposta original de
Calvino, conforme exposto acima.
Utilização livre desde que citando a fonte
Mestre em Ciências da Religião.
Historiologia Protestante
Calvino Singularidades:
Pregando Até o Fim
Calvino e Sua Relação com os
Pais da Igreja
Personagens do
Protestantismo – Calvino
Protestantismo: Os Quatro
João (John) da Reforma
VERBETE – Pais Apostólicos
Referências Bibliográficas

CALVIN, John. Institutes of the Christian Religion. Translated
By; Henry Beveridge. Edited By: Anthony Uyl. Ontario, Canada: Edition Published
by Devoted Publishing, 2016.



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